A PROPOSTA

 Idealizada por Marianna Perna, artista multimídia, poeta, pesquisadora e produtora cultural, a antiga casa, de 1954, passou por uma extensa reforma para abrigar a morada coletiva e o espaço de atividades. A casa é ecológica, coletando água de chuva para reuso, e realiza tratamento natural de seus dejetos, retornando uma água purificada à terra, minimizando assim sua pegada ambiental. 

A Casa Urânia deseja atender o segmento artístico autoral e cultural como um todo, além do segmento das práticas terapêuticas e integrativas, com visão holística e engajada social e ambientalmente, estabelecendo-se como um espaço ativo e de resistência para as artes e para práticas educativas e de cura, que engaje as pessoas.

Entendemos nossa missão como sendo segurar a tocha para tempos absurdamente sombrios, de genocídio social, fruto da negligência, ignorância e intolerância das autoridades e de boa parte das pessoas. Aqui, aquelas e aqueles comprometidas/dos com valores empáticos, como fraternidade,  generosidade e a transformação do mundo/de si, bem como da natureza que nos resta, poderão encontrar acolhimento e abertura para se firmar e se fortalecer, juntas e juntos, aprendendo e trocando.

Enxergamos que a saída é coletiva.



Casa Urânia, local de trocas e transformações, através do exercício da empatia e do espírito coletivo colaborativo. Uma proposta de aliar compromisso coletivo a rebeldia social.

>>> Imaginários de Urânia

Na mitologia romana, havia nove musas, filhas de Zeus, e deusas das artes e ciências. Urânia era a Musa da Astronomia. Seu nome vem de “Ouronos”, que significa “céu”. Já Afrodite Urânia, na mitologia grega, era um aspecto ou expressão de Afrodite, deusa do amor e do prazer, correspondente a Vênus, que sugere amor fraternal, divino, celestial, ou mesmo espiritual. Teria sido filha de Urano, porém concebida sem uma mãe. Aqui nos aproximamos dessas mitologias e também da astrologia para sugerir aspectos ligados a Vênus e a Urano, por ser um plano simbólico que nos guia. 

Urano é o sétimo planeta do sistema solar; seu nome se refere ao deus Urano, filho e esposo de Gaia; juntos geraram os Ciclopes e os Titãs. Na astrologia, a influência deste planeta relaciona-se à quebra de paradigmas, inconformismo, busca por liberdade, inovação e também cooperação, coletividade e amizade. A energia uraniana tem a ver com a intuição e um pensamento associativo não lógico, antes visionário e muitas vezes profético, até um tanto caótico. Urano, simbolicamente, relaciona-se a tudo que transforma tradições e padrões, para dar espaço a novos caminhos, novos valores.

Acreditamos ser esta a vocação da Casa Urânia, buscando um meio termo entre o novo e a valorização – através de resgates – de tradições massacradas pela cultura cartesiana e capitalista, como as dos diversos povos originários ocidentais e orientais, com seus saberes e fazeres, que nos inspiram, nas mais variadas linhas.

Novamente recorrendo à mitologia grega, do sangue derramado de Urano sobre a Terra nasceram os Gigantes, as três Erínias, as Melíades e, segundo algumas fontes, os Telquines. Já Afrodite (Vênus, na mitologia romana), nasceu quando Cronos, filho de Urano, lançou os testículos do pai no mar; da espuma misturada ao sangue, ergueu-se a bela Afrodite. Associada ao amor, à sexualidade, e à beleza, liga-se à perpetuação da vida em geral, através da alegria, do prazer e da empatia. Já Vênus, enquanto planeta, é o mais próximo da Terra, e o segundo do sistema solar, sendo também o mais quente. Na astrologia, este planeta simboliza nosso afetos e valores – tudo o que nos é caro e nos faz bem, a forma como amamos, e tudo aquilo que promove a perpetuação da vida, bem como a estética, os acordos e relações. 

Urânia, além dessas referências todas, também pode ser pensada livremente como um aspecto feminino de Urano e que congrega em si o ímpeto feminino venusiano de empatia e acolhimento, a serviço da transformação uraniana dos valores e práticas sociais. 

texto por Marianna Perna